Anaxágoras

terça-feira, 4 de maio de 2010


Anaxágoras (gr. Ἀναξαγόρας) foi o principal responsável pela introdução da filosofia pré-socrática em Atenas e, consequentemente, por sua difusão entre os intelectuais atenienses. Exerceu influência em Sócrates e, naturalmente, em Arquelau, seu mais importante seguidor.

Vida e obra
Nasceu em Clazômenas, pólis da costa ocidental da Ásia Menor, por volta de -500 e, vinte anos depois, mudou-se para Atenas, onde se tornou amigo de Péricles (-495/-429); lá viveu cerca de trinta anos, ensinando filosofia. Suas idéias avançadas e sua amizade com Péricles valeram-lhe algumas antipatias e um processo de "impiedade" forçou-o a refugiar-se em Lâmpsaco, na Jônia, onde continuou a ensinar (c. -432). Faleceu pouco depois, nessa mesma pólis, mais ou menos em -428.

Escreveu, segundo a tradição, um livro denominado Da Natureza, em prosa, do qual restam cerca de vinte fragmentos.

Pensamento
Embora possa ser considerado herdeiro intelectual dos filósofos milesianos, Anaxágoras pensava de forma radicalmente diferente em relação à estrutura do universo. Postulava que, ao invés de elemento primordial unitário, várias substâncias diferentes compunham a totalidade do espaço existente. Cada elemento constituinte seria, portanto, fundamental em si mesmo e a matéria constituída pela combinação desses elementos era infinitamente indivisível.

A força que movia o universo era o Espírito (gr. νόος ou νοῦς, i.e. "pensamento", "espírito", "inteligência"), ilimitado, isolado e separado de tudo o mais. O Pensamento teria gerado um turbilhão primordial que, ao se alastrar e se movimentar pelo caos ("vazio") precedente, forçou certas entidades a se diferenciarem, como o denso do rarefeito, o quente do frio, o seco do úmido. Nada teria sido criado ou destruído: as coisas surgiram e desapareceram a partir da combinação e da dispersão daquilo que já existia.

Cada porção do mundo material conteria, em princípio, todos os componentes encontráveis nas outras partes (homeomeria). É a preponderância de certas entidades, a partir de "sementes" cujos elementos constituintes estariam inextrincavelmente misturados, que explica as características que diferenciam as coisas existentes. Um pepino e uma pedra teriam, portanto, os mesmos componentes básicos, mas em diferentes proporções.

O corolário desse conceito é que, mesmo dividindo-se infinitamente qualquer porção do mundo material, a menor porção possível conteria, ainda, todas as substâncias consituintes do universo, na proporção (preponderância) necessária para individualizá-la das demais.

Contribuição à Biologia
Anaxágoras achava que os animais nasciam primeiro da umidade, assim como Anaximandro, e estudou também as sensações. Acreditava que as coisas, para serem perceptíveis, devem ter uma composição contrária à dos órgãos dos sentidos, i.e., a percepção se dá entre coisas dessemelhantes. Nesse aspecto, ele se opunha a Empédocles, que defendia a percepção do semelhante pelo semelhante.

Postulou também que o ar contém "sementes" de todas as coisas, e que elas são trazidas à terra pela chuva, originando, por exemplo, as plantas.


Contribuição à Astronomia
Anaxágoras acreditava que a Terra era oca, tinha forma plana e se mantinha suspensa, sem apoio. O Sol, que era "maior que o Peloponeso", a Lua e todos os astros eram pedras incandescentes e seu calor não era percebido por estarem eles muito longe da Terra. Os astros, em sua revolução, passavam por baixo da Terra. A Lua era feita de terra, ficava abaixo do Sol e era o corpo celeste mais próximo de nós e não tinha luz própria; assim como Empédocles, ele acreditava que a luz da Lua vinha do Sol.

Os eclipses da Lua eram devidos ao fato dela ser ocultada pela Terra; os do Sol, pela interposição da Lua na fase de Lua Nova.

Fragmentos, edições e traduções
A doxografia provém, principalmente, de Platão, Aristóteles e Teofrasto. Os fragmentos foram conservados, em sua maioria, por Simplício (séc. VI).

A primeira edição moderna de todos os fragmentos é a de Schaubach (1827); depois, vieram as de Schorn (1829), Karsten (1835) e Mullach (1860); atualmente, a edição "padrão" é a de Diels e Kranz (61951).

A primeira tradução para o português é a de Gerd Bornheim (São Paulo, 1967), seguida pelas de Maria Cavalcante (São Paulo, 1973) e Carneiro Leão (Petrópolis, 1991).
 
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